quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um encontro de veículos antigos em Goiânia


Thunderbird 1955, diante dos sócios do CVAGO


    Ainda no íngreme declive para o Cepal, vi o Puma do Mineirinho pegar a Rua 83 para o interclubes. Ágil e rápido demais para eu ter tempo de empunhar, ligar, mirar, focar e disparar a câmera; que já está obsoleta, demora mais para acordar. Se eu, que estou acostumado, ainda me encanto, imagino os motoristas em seus carrinhos iguais, vendo aquele conversível passando por eles!

O Puma do Mineirinho

    Cheguei pela calçada oposta ao decrépito Cepal do Setor Sul, na rua 115, já encontrando o habitual Fusquinha 1300 verde, com rodas de Xsara Picasso. Chegando vivo ao outro lado, dei de cara com a Kombi Jarrinha alvi-rubra do Matias, com que ele transportou a singela memorabilia que estava à venda. Algumas peças mereceram mais destaque, como um PABX dos anos sessenta ou setenta, ainda usando chaves para transferência de ligações. O povo nem sabia o que era, mas ficou encantado. Tempo em que ainda se ligava e pedia "Telephonista, ligue-me com Doutor Peebles". Também levou mimos decorativos, além das tradicionais peças que sabe-se lá como ele consegue! Dizem que tem um verdadeiro museu em casa!

    Adentrei enquanto photographava os Fuscas do Volks Clube. A tenda dele estava lá, no meio dos tedescos, exibindo a organização minimalista e acolhedora de seus sócios. O clube tem o senso de civilidade de oferecer lixeiras com seu emblema, para que sócios e público não precisem enfiar seu lixo no bolso. E vejam os milagres do antigomobilismo! O povo evitava mesmo jogar seus lixinhos no chão ondulado de asfalto do Cepal!

    Desta vez houve música ao vivo. Beto Senador levou um amigo cantor e tivemos momentos com Jovem Guarda e clássicos italianos. Era uma cena pitoresca ver aquele senhor cantando em italiano bem diante dos Pumas, do Puma Clube, que foram inspirados na Alfa Romeu Spider dos anos sessenta e setenta. Não perderam seu brilho por haver três Corvettes logo ao lado. Nem o Fusca 1960 se acanhou diante deles, que dirá os atrevidos Pumas!

Fusca 1960

    Aliás, os três do acervo do CVAGO, presidido pelo Alexandre de Jesus. O clube é o organizador do evento e coordenador dos demais no local. A batuta da sócia Márcia garantiu um café diversificado, com quitandas, café e sucos, asegurando a presença precoce dos associados. Ela acertou em cheio, os sócios se aglomeraram e conversas animadas se deram ao redor da mesinha. Bem ao lado, o Thunderbird 1955 com kit continental, em que o estepe fica do lado de fora, mas sem a altura desnecessária dos cafonas SUVs.

Ford Model A 1929 (primeiro plano) e 1930
    O maior encanto de um evento assim, no entanto, é a presença maciça de famílias inteiras. As crianças corriam serelepes aos mais antigos, como o Ford A Two Door 1930 do Elísio, que para elas deve ter um aspecto de brinquedo... Não é totalmente fantasioso, 72km/h não fazem frente nem aos 155km/h da finada Kombi. Mas como ele e o Ford A Phaeton 1929 (Ford Bigode) em fase de restauração, ao seu lado, fizeram aqueles olhinhos brilharem! Não só as crianças, mas as moças também, fazendo lembrar a saudosa música do Roberto. Ambos, como deve ser com qualquer automóvel, andando normalmente, dando de ombros para o trânsito e os buracos das ruas.

A quem não conhece, esta é a Vespinha
    As Lambrettas e Vespas finalmente voltaram a freqüentar o encontro mensal. Fizeram falta com seu charme lúdico, quase pueril, e seus pipocantes motorzinhos dois tempos. Também pareciam ser de brinquedo, com suas linhas suaves e quase maternais, especialmente a pequena Vespa. Mal passando de 80km/h, podem facilmente ser entregues a um principiante. Além de suas carenagens e posição de dirigir, sem um tanque no meio para obrigar a viajar montado, permitirem o uso de saias mais curtas sem sustos. Fora a existência do estepe e a facilidade para se trocar um pneu! Imaginei a amiga New em uma delas. Apesar do capricho, seus donos permitiram sem medo que os visitantes se sentassem nelas, para uma photo. Camaradagem faz parte do pacote, os sorrisos dos petizes também.

Opala de Luxo 1972
Zundapp
    Os opaleiros do Opala Gyn e Opaleiros de Goiânia também compareceram, animados e numerosos como sempre, exibindo o padrão de qualidade que a Chevrolet do Brasil um dia teve. Quando terminei de photographar um já raro e lindo Opala 1972 De Luxo, vermelho com teto de vinil, onde duas pequerruchas brincavam e conversavam na sala de estar que é o interior daquele carro, fui ao estacionamento e veio o simpático amigo Bariani puxar conversa.
Ele apareceu com sua belíssima e robusta Zundapp 1950, que deixou à disposição do público para apreciação detalhada. E haja tempo para apreciar tantos detalhes quase inexistentes nas motocicletas de hoje! Em vez de corrente, por exemplo, ela usa eixo cardã para a tração, como no Opala. A alemã chamou mais atenção da juventude do que as modernas e berradoras esportivas de dez mil rpm, que eram várias no estacionamento, naquele domingo. Mesmo roncando alto, na saída, foram ignoradas por quase todos os admiradores das antiguinhas.

Para quem tem saudades dos glamourosos motores V8, eles também estavam presentes, aos montes, tanto no CVAGO quanto no União V8, que voltou a ser regular nos encontros. O ronronar dos Mopar brasileiros encheu o ambiente, com a força bruta de quem não precisa de injeção eletrônica para empurrar um carro grande e pesado em reles marcha lenta.

    Havia ainda um rapaz expondo e vendendo miniaturas de boa qualidade e detalhismo, algumas raras no Brasil, mas também as populares e estranhas Hotweels, que venderam bem. Eu vi um pai coruja comprar duas de uma só vez. Vender bem, diga-se de
passagem, é um dos atrativos e motivos para os pequenos comerciantes prestigiarem eventos vintage e retrô como este. Mesmo com a boca livre nas tendas do CVAGO e do Volks Clube, quem foi vender lanches e acepipes não se arrependeu, mesmo os com carrinhos de picolé. Eles dividiam as atenções das crianças com os carros, as motocicletas e a memorabilia. Era como uma mini loja de brinquedos no evento, a garotada encheu os olhos. Lá precisei ter paciência, não se pode simplesmente dizer a uma criança para sair da frente de um brinquedo!

   Como há muito não acontecia, o evento foi bastante coeso. assim como a maioria chegou em horários bem próximos, a hora de terminar também foi bastante homogênea. Perto das treze horas as barracas estavam sendo desarmadas, os bólidos começavam a ir embora e as pessoas voltavam para casa. Estas, principalmente as crianças, com um monte de coisas boas para contar aos colegas na segunda-feira.

    Domingo, dia 27 de Abril, tem mais. Cepal do Setor Sul, a partir das nove horas. Entrada franca e sincera para os admiradores da cultura retrô e vintage.