sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ambientes integrados, uma tendência que voltou


Ambientes amplos e conjugados. A idéia era muito boa, se valer dos avanços tecnológicos e das casas cada vez mais bem equipadas, para que a família pudesse se dedicar a si mesma. Como sabemos, infelizmente não vingou por muitos anos, como se esperava, mas a necessidade de praticidade tratou de devolver a cabeça ao pescoço. Os anos cinqüenta começavam a realizar um sonho arquitetônico interrompido pela guerra.

Novos materiais, a proliferação da madeira laminada com cores, texturas e acabamentos diversos, plásticos realmente resistentes e práticos, desenhos leves e "espaciais" como o pé-palito, enfim, as novidades eram como entorpecentes para os arquitetos como hoje o são para os designers de interiores. A ousadia maior era adequar a casa ao terreno, não só o contrário, barateando e dando mais segurança à construção, uma vez que se mexia menos na estrutura do solo.


Os arquitetos dos anos quarenta ao sessenta, percebendo a sede de espaço e liberdade da classe média crescente, inclusive no Brasil, começou a rever a tendência metropolitana dos apartamentos minúsculos (coitados, nem imaginavam o acinte que se tornariam a partir dos anos oitenta) dos centros, próprios para solteiros, começaram a imaginar e desenhar casas com poucos ambientes, mas sempre amplos e cercados pela natureza, como se começou a pensar depois da grande depressão, mas sem técnicas e materiais então disponíveis.

Os carros, cada vez mais velozes, serviços de transporte público, lá fora, eficientes e vias expressas, também lá fora, próprias para deslocamentos rápidos em longas distâncias, alimentaram o êxodo para os subúrbios, onde antes estavam fazendas falidas e chácaras. Janelas amplas de vidro temperado permitiam ventilação perfeita no verão, e isolamento total no rigoroso inverno setentrional. Começava-se a perceber a importância de integração homem-natureza, sem a neurose que temos hoje. Uma idéia colateral era transformar o cidadão comum em um defensor do lugar onde vivia, no caso, a mata nos arredores do bairro.

 Claro que então já não se imaginavam famílias gigantescas, capazes de fundar uma aldeia, mas ter dois ou três filhos ainda era o sonho da maioria dos casais. Três ou quatro quartos de tamanho suficiente para cada um, deixando o restante do espaço da casa para a convivência, com poucas paredes, ou até mesmo meias-paredes separando os ambientes, não raro com acabamentos diferenciados entre si. Hoje já é possível que as paredes sejam móveis, recolhíveis e até desapareçam por completo. A garagem, por exemplo, era pensada para que esposa e marido tivessem cada um seu próprio carro, até por questão de necessidade. Além de (como ainda hoje) ser quem mais cuida da prole, a esposa começava a trabalhar fora e ganhar quase tanto, às vezes mais do que o marido, quando os moleques já podiam se cuidar sozinhos, é claro. Geralmente ele ficava com o sedan e ela com a wagon, útil quando seu trabalho era de vendedora de porta-em-porta.

O resultado era uma casa de tamanho médio, com conforto e facilidade de circulação de uma casa grande. As grandes, nestes moldes, pouco deviam às mansões. Outra vantagem inegável é a facilidade para manter e limpar os ambientes. Como vocês sabem, lá fora uma empregada não é para classe média, elas ganham relativamente bem, então toca à família cuidar de sua casa. Classe média de nariz empinado, leitori, é exclusividade de países subdesenvolvidos com fracas aspirações ao desenvolvimento, como o nosso. Com aspiradores de pó, enceradeiras, ceras sintéticas e tudo mais, o serviço ficou mais simples e desencorajava menos as crianças. Estão pensando o quê? Eu conheci e usei aqueles esfregões de ferro fundido, se machucar ou danificar os móveis era um risco real e iminente, a questão não era "se", mas "quando" o acidente aconteceria.

O que dá para se fazer hoje? Bem, nosso país está começando a descobrir que arquitetos, decoradores e engenheiros não podem ser substituídos pelo pedreiro. Os quatro têm suas devidas funções, com a diferença que o engenheiro entrega o que o cliente compra, não o que ele quer que o cliente compre. Até para poupar material de construção, consulte antes um arquiteto, para evitar que sua casa receba incidência solar durante o dia inteiro... como onde eu moro... por enquanto. Ele lê, estuda, se actualiza, ou fica fora do mercado, então tem na ponta da língua as novidades e técnicas mais recentes e aperfeiçoadas. Se disseres que queres um ambiente integrado dentro e fora da casa, ele vai quase ter um orgasmo.


Dificilmente dará para ter um heliporto, como muito se imaginava para o século corrente, até porque helicópteros ainda são muito caros e poucos sabem pilotar o monstrengo. Em todo caso, se estiveres disposto a arcar com custos e burocracia, uma lage reforçada, com possibilidade de se tornar um ambiente superior para eventos e festas, pode ser inclusa no projecto. O melhor, na fase do projecto, de haver poucas paredes, é a liberdade criativa, que permite deixar a casa do jeito que o cliente deseja, por mais tradicional que seja o estilo. Sim, a verba disponibilizada ditará o resultado final, mas sob a batuta de alguém que enxerga a vida da família no bairro, e não somente os tijolos do alicerce, teu suado dinheirinho renderá e durará bem mais.

Hoje temos a vantagem da existência de materiais com que os arquitetos da época sonhavam, para poderem construir vãos gigantescos e sacadas enormes, sem o risco de desabamento. É possível conjugar concreto, metais, vidros e plásticos sem medo de a dilatação térmica transformar o sonho da casa arrojada em um pesadelo de infiltrações. Podemos voltar a ousar, ainda que sem abrir mão de um estilo enxamel.




Um fórum de arquitetura da época, clicar aqui.
Googie Architeture Online, com um belo acervo, clicar aqui.