quarta-feira, 25 de julho de 2012

Brechós, esses incompreendidos



Só em um país de mentalidade terceiromundista para um brechó ainda sofrer tamanho preconceito. Em praticamente todos os outros países, inclusive de terceiro mundo, se é que esta expressão ainda tem grande valia, eles conquistara os status de "moda alternativa", "mercadores de história" que pode ser também aplicado aos pregos, depois falarei deles, "pechinchas de bom gosto" entre outros. Em países desenvolvidos, os brechós têm um nível de profissionalismo e sofisticação que humilham muitas de nossas lojas de grife. Alguns só aceitam roupas de boa procedência e em perfeito estado, no máximo precisando tinturar ou pregar botões, algo ainda longe da nossa realidade. Mesmo por aqui há brechós que passam por lojas finas, como verão mais a seguir, mas a regra é mais acanhada mesmo. Profissionalismo, aliás, é artigo escasso em todo o território nacional, convenhamos.


  Eles sempre existiram, simplesmente porque sempre existiu gente pobre, e ainda haverá por muitos séculos. O princípio é simples, um estabelecimento modesto compra roupas ainda em condições de uso, mas que seus donos originais descartaram, seja por saírem de moda, por apresentarem alguns defeitos, desgaste pelo uso normal, nova condição sócio/cultural/religiosa/ideológica/escalafobética, ou puro consumismo mesmo. Como "ninguém mais quer" aquelas peças, elas podem ser compradas por uma ninharia, e revendidas por preços camaradas, mesmo assim oferecendo uma boa remuneração ao dono do brechó.

  Sei de um sujeito na Califórnia, que conseguiu uma vida confortável com isso, comprando pilhas de roupas excelentes para uso, por cinqüenta doletas, e conseguindo cinco mil fácil, fácil pelo lote, no varejo. Isso com as boas, as perfeitinhas. As peças que têm pequenos defeitos, o mala rotula de "design" e vende por algumas centenas de dólares, cada uma. Pensaram que malandragem fosse cousa de brasileiro? Há! Amadores!

Fonte da imagem: http://blogdanielipenteado.blogspot.com.br/2012/01/
  O estigma de pobreza-fashion-wear começou a cair por terra no fim dos anos cinqüenta, com mais força a partir do segundo terço dos anos sessenta, quando a contra cultura começou a ter forma. Um rápido adendo, essa conversa de contra cultura é uma bobagem, no fim das contas é tudo cultura e dará meio de vida lítico para alguém. Continuando, foi quando o rock'n roll tomou conta do mundo e as bandas inglesas contra atacaram a invasão americana. Velhas camisas com babados e fru-frus, guardadas em baús porque ninguém queria ser visto vestindo aquela aberração, mas gostavam veladamente, passaram a ser disputadas pela juventude inglesa. Claro que rapidamente voltaram a confeccionar as peças, mas as com história, as realmente antigas, após alguns ajustes, ganhavam o mesmo poder de status de um fraque novo em folha. Os garotos de Liverpool ajudaram muito a popularizar as roupas usadas, com suas fases extravagantes, tirando de vez o medo do ridículo dos jovens. God save The Beatles! Por aqui, a Jovem Guarda se encarregou de fazer o estrago, concomitantemente com os desenhos da Hanna Barbera.

O 500 original. Fonte da imagem: http://www.topolin-auto.fr/
 Aqui cabe um comentário a mais. É esta a diferença entre o retrô e o vintage. O retrô imita, remete a, ou se inspira fortemente em uma peça histórica, enquanto o vintage é a própria peça histórica. Um Fiat Cinqïüecento 2012 é retrô, já o de 1957, o pequenino Tota, como é chamado na Itália, é vintage. Já o Fusca é vintage do primeiro ao último, porque ficou praticamente intocado nas sete décadas de produção, o Beetle é um Golf retrô, porque só foi (mal) inspirado no original. Só que uma peça vintage, por sua própria natureza de antiguidade, não dá para quem quer, simplesmente porque sua matriz não existe mais, daí a proliferação do estilo retrô em absolutamente todas as áreas do comércio. Daí também, o crescente interesse dos meliantes por peças antigas em bom estado, especialmente os carros.

Os brechós do Brasil tiveram um forte impulso do espiritismo, cujos seguidores costumam fazer bazares beneficentes, onde aceitam peças de qualquer origem e se dispõe a consertar pequenos defeitos, para ajudar a custear as obras de caridade. Sem querer, eles fertilizaram a semente do mundo vintage, que na época em que começaram ainda estava por brotar. Com base no princípio de dar valor pela utilidade, já que o apelo mercadológico e social praticamente desaparecem, na maioria das vezes, os brechós acabam aumentando o producto interno bruto de um país, pela reutilização e conseqüente maior circulação de capital, isto sim um produtor de riquezas sólidas.

Fonte da imagem: http://www.70sfashion.org/

 Como as pessoas de bom gosto e pouca verba podem se beneficiar em um brechó? Munindo-se de paciência e perseverança. Da mesma forma como o dono do estabelecimento precisou garimpar as peças por aí, o consumidor final também terá que procurar e filtrar muito, mas muito mesmo. Primeiro porque trata-se de roupa usada, de procedência desconhecida, cujo antigo dono pode ter uma compleição completamente diferente da tua; Segundo porque é quase certeza de que aquela peça é a única do modelo naquela loja, tanto mais quanto mais fina for, inviabilizando uma troca e dificultando ao extremo encontrar outra de outro tamanho; Terceiro porque aquele paletó, por exemplo, pode ter saído da fábrica como um tailleur completo, cujas peças estão espalhadas por vários brechós distantes entre si, obrigando o comprador a gastar sola ou se virar para conseguir uma boa combinação. É fácil sair pensando que está bem equipado, mas pronto para vencer o concurso da Festa da Marmota. Peças usadas demandam muito mais cuidado na escolha, jamais se esqueçam disso. Por falar nisso, há peças, especialmente dos anos sessenta a setenta, que foram pensadas para certos penteados e maquiagens, nem sempre combinam com outros diferentes, então não tenha vergonha do espelho, na hora de experimentar, para não passar vergonha depois, na reestréia da peça.

Fonte da imagem: http://www.chictopia.com/
Aliás, para festas temáticas, vídeos e peças teatrais amadores afins, um bom brechó é a melhor pedida. Como o deste vídeo aqui, no Bolsa de Mulher. É garantia de fidelidade para com a época-tema com custos bem camaradas, e de excelentes photographias do elenco. No caso do "Desculpe, Eu Sou Chique", é também um prego com toda memorabilia necessária a quem precisa ou gosta de ser legitimamente vintage.


Outra boa pedida, mas que demanda cuidado redobrado, por motivos óbvios, é a seção de antiguidades do Mercado Livre, aqui. É um tormento para gente de bom gosto com pouco dinheiro no bolso, e um campo minado para o internauta displicente ou inexperiente.

Os brechós tradicionais, cujos donos só querem um meio de vida para sustentar a família, existem aos montes, a maioria de gosto e com estoque duvidosos. Mas também já há os que enxergaram além do leitinho das crianças,  e têm instalações dignas de lojas de grife, com peças de alto nível e preços correspondentes, não raro comprando algumas dos brechós tradicionais, para reformar e revender. Eles chegam ao requinte de não só parecerem, mas terem sua própria grife, copiando roupas de época e reproduzindo os modelos mais procurados; eis aqui a solução para aquele tailleur fragmentado. Estilistas sérios, aqueles que não querem ver as mulheres parecerem palhaças esqueléticas, costumam recorrer a esses brechós, quando não têm os seus próprios. Até por não terem recursos abundantes nas mãos, esses estilistas acabam percebendo que as mulheres têm curvas, mesmo as mais magricelas, e uma roupa feita para cabides não vai ficar bem nelas.

 Para quem gosta do ramo, como as doces amigas Mymi e Sereninha, e pensa em viver disso, as notícias são muito boas. O custo de implementação do negócio é baixo, bastante baixo. Por oferecer quase nenhum risco, pois risco zero não existe, tem pouca burocracia e geralmente a licença para abertura é rápida... A não ser que queira-se vender também cosméticos, aí tem que ter o alvará sanitário, que é bem mais complicado. A sugestão é começar procurando nos bazares dos centros espíritas, que já fazem a triagem e pequenos reparos, vendem por uma pechincha e têm muita facilidade em conseguir novas peças velhas. Aliás, a quantidade de espíritas bem-sucedidos é maior do que a média, uma amizade com eles garante conseguir roupas mais finas e difíceis de se encontrar, assegurando um bom diferencial logo na inauguração.


 Apesar de ser mais fácil, desaconselho colocar todo o estoque à vista e de qualquer jeito, no salão de vendas. Além de expor as roupas ao desgaste e danos, nivelará a clientela por baixo. Quem realmente se interessa pela garimpagem de roupas porque quer, não simplesmente porque está sem grana, não se furtará o direito de lhe pedir informações e sugestões. Como em tudo, na cultura retrô-vintage, fazer amizade com o cliente é fundamental, porque se ele fosse atender simplesmente à "racionalidade vigente", iria directo a um atracadão e compraria um lote de jeans e camisetas variadas. Mas preferiram ter o bom senso de perceberem que não são bio robôs, preferiram se dar o direito de cultivar a nobreza de uma boa garimpagem, mesmo quando não têm títulos nobiliárquicos. No fim das contas, quem conhece um pouco de história sabe pelo que os primeiros nobres passaram para merecerem seus títulos de nobreza, então vão garimpar de queixo erguido.


Como sempre, segue uma lista de links afins, alguns estão sem actualização há meses, mas todos valem à pena: 

Chictopia, clicar aqui.
Café Brechó, clicar aqui
Maria Brechó, clicar aqui.
Plato's Closet, clicar aqui.
Brechó Online, clicar aqui
Brechó da Lulu, clicar aqui
Minha Avó Tinha, clicar aqui.
Personal Brechó, clicar aqui.
Blos Fashionismo, clicar aqui.
Acessorize Brechó, clicar aqui.
Best Used Clothing, clicar aqui.
Brechó Alice Usava, clicar aqui
Brechó Reinvenção, clicar aqui
Bom, Bonito e Usado, clicar aqui.
Vintage Brechó Online, clicar aqui.  
Used Clothes Australia, clicar aqui.
Era Uma Vez Outra Vez, clicar aqui
Brechó Mimis In The Sky, clicar aqui

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Viver, Ver e Rever


Dica para os paulistas. O Primeiro Clube do ônibus Antigo realizará mais uma exposição anual, com o patrocínio da Mercedes-Benz, de seu acervo, para visitação pública gratuita.

A exposição será no Memorial da América Latina, dias dez e onze de Novembro, das 09h às 17h, com ambiente familiar e espaço de sobra para as crianças, até porque veículos do porte dos expostos precisam. O clube foi idealizado e veio à luz pela luta e competência de Antônio Kaio Castro, cujos frutos resultaram até na lei n° 14.145, que institui o dia da Preservação da Memória do Transportes em Ônibus, a ser comemorado, como já diz o cartaz, dia trinta de Novembro.

O que tem a ver com ser vintage? Tem a história. Os mais jovens aprenderão como era a vida nas épocas em que os ônibus e caminhões expostos saíram da linha de montagem, por conseqüência terão também a chance de raciocinar, ver bem os caminhos que levaram à degradação do transporte público. Mas não é só a parte ruim, longe disso. O evento costuma ser frreqüentado por ex-motoristas e antigos usuários dos veículos, que não fazem cerimônia em repassar sua experiência aos mais jovens, tendo os carros de época como instrumentos pedagógicos.

Alguns ônibus causarão estranheza, como os Mercedes e Chevrolets derivados dos caminhões, respectivamente dos anos cinqüenta e sessenta, uma época em que esses veículos eram brutos, sem qualquer amenidade, nem de longe lembrando a tecnologia de ponta e requintes de extremo luxo que recebem hoje, nas fábricas.

Sim, meu amigo, aquele estereótipo do caminhoneiro musculoso e cansado é real. Até o início dos anos oitenta, não havia essa moleza de direção assistida para caminhões. Até que dava para levar tranqüilo em velocidade, que para a maioria não chegava a 90km/h, mas na hora da baliza, o muque sofria! Hoje, com um dedo tu giras o volante de um extra-pesado com mais de sessenta toneladas no lombo, ou um mega ônibus rodoviários de dois pavimentos e quatro eixos, dois deles esterçantes. Nos anos setenta, um torpedinho de doze metros já era garantia de bíceps fortes.

Provavelmente uma jardineira dos anos vinte, ônibus com carroceria de madeira e laterias abertas, à moda dos bondes, estará presente, para a alegria das crianças, que têm sido o público mais receptivo do antigomobilismo. Não vamos decepcioná-las, heim!

Então, meuis queridos, se organizem, marquem na agenda e, se possível, visitem os brechós para conseguirem roupas de época, ou pelo menos copiar algumas peças, para fazerem bonito e darem brilho extra a um evento que é a realização do sonho de um brasileiro digno e perseverante. De quebra, terão dois dias de lazer sadio e tranqüilo, próprio para estreitar laços afetivos e familiares.


domingo, 8 de julho de 2012

Ah, as ferrovias!


Uma malha ferroviária decente não é apenas uma necessidade básica para qualquer país. E não me refiro apenas a nações com médios e grandes territórios, nem os gigantes como o brasileiro, o Japão é um país pequeno e retalhado por linhas férreas que impõe respeito a qualquer nação.

As ferrovias são também um dos modos mais retrôs de se viajar. Em lenta decadência, dos anos oitenta até início deste século, estão sendo retomadas graças à cultura vintage, financiadas por pessoas que querem fugir deste mundo atormentado, ainda que algumas horas, aproveitando o que as décadas passadas têm de bom a oferecer. E é muita cousa, asseguro.

Não se sabe com certeza, mas provavelmente tudo começou quando alguém com verba, convidou amigos e/ou parentes para um passeio como na época em que era pobre. Muitos grupos passaram a alugar velhos trens para passeios diferentes, para terem algo de realmente novo para mostrar e contar aos amigos, ou simplesmente relaxar. Acontece que a cultura vintage age justamente assim, chamando as pessoas discretamente, sem que elas percebam. Quando se dão conta, já foram contaminadas até em seus alelos.

O melhor, por assim dizer, dessas ferrovias quase esquecidas, é que elas levam a localidades onde o tempo ficou preguiçoso, seja andando devagar, seja deixando alguns pedaços pelo caminho, levando a providencial ajuda financeira do turismo a cidadelas que acreditavam não ter o que apresentar. e Justo por causa do turismo, passaram a preservar aquilo que começou a atrair os turistas, dando aos jovens uma chance de prosperar sem precisar abandonar sua cidade.

Não falo dos modernos trens-bala, nem dos futuristas trens de levitação magnética já em testes, estes o primeiro mundo conhece bem. Tanto lá como cá, o desejável é a viagem em locomotivas dos anos sessenta para trás. Em um continente que ficou no fogo cruzado da guerra fria, as viagens em trens antigos relembra os europeus das agruras das guerras, e do pós-segunda-guerra, que mergulhou o continente em um mundo à parte que dura até hoje, apesar da crise que não durará para sempre.

Os Estados Unidos, do tamanho do Brasil, têm uma malha ferroviária que volta a crescer e dedica muito espaço ao turismo ferroviário. Como a cultura vintage por lá é a mais forte, os trens de época em condições de rodar também são os mais numerosos.

Isso não acontece somente no exterior, por incrível que pareça, no Brasil também existe uma letárgica, mas sólida revitalização das ferrovias antigas, por causa do turismo. Hoje, a maioria é apenas de curiosos, gente que quer paisagens diferentes, colocar photographias no facebook, que não seja de balada e bebedeira e por aí vai. Há uma minoria, porém, que não só organiza passeios afins, como faz questão de dar o ar retrô à viagem.

Um bom exemplo é a cidade de Campinas, em São Paulo, que mesmo já sendo uma metrópole, tem prédios centenários, praças preservadas e uma malha ferroviária operante, ambos atraindo turistas de todo o país. A locomotiva à vapor vai até a cidade de Jaguariúna, ida e volta duram cerca de três horas. A viagem é lenta para permitir aos passageiros o registro detalhado da paisagem, cheia de história.

Em Paranapiacaba, que todos os anos recebe a convenção de magos, bruxos e feiticeiros, tem o típico charme londrino do começo do século, praticamente dodo preservado. Lá o passeio é assegurado por uma locomotiva à vapor e vagões de madeira, da São Paulo Railway. Uma boa pedida para os elegantes steampunks.Chegar à Paranapiacaba é atravessar uma fenda temporal para a béle époque.

Ente Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, na serra gaúcha, há outra locomotiva à vapor que percorre 23km de trilhos bem conservados, passando pela cidade de Garibaldi. O trecho é conhecido como Ferrovia do Vinho, e atrai mais turistas do que se possa imaginar, especialmente na primavera e inverno, quando as diferenças climáticas tornam a região totalmente diferente do restante do país. São duas horas de um passeio calmo, mas festivo.

De Pindamonhangaba a Campos do Jordão, desde 1914, há um trem que foi idealizado para fins medicinais, para ajudar pacientes tuberculosos com o clima ameno da serra. Claro que a beleza da região logo despertou atenção e arrancou suspiros, fazendo os pacientes voltarem desta vez para desfrutar do lugar.

O Trem da Serra do Mar liga Curitiba a Morretes e Paranaguá, sendo o segundo ponto turístico do Paraná. Os 71km da ferrovia são percorridos por uma locomotiva de alumínio, modernosa para os anos cinqüenta, revelando canions, despenhadeiros, ruínas de antigas estações e muitos abismos. Aviso de antemão que Morretes é sinônimo de gastronomia, então não venham reclamar de terem ido ventindo 36 e voltado com tamanho 40.

Em 2009 foi inalgurado o Expresso Turístico Estação da Luz - Jundiaí, que se vale de uma valente e charmosa locomotiva diesel-elétrica da CPTM, com quase sessenta anos de uso. A intenção é dar uma aula de história da ferovia paulista, assim o itinerário inclui as cidades de Paranapiacaba e Mogi das Cruzes. A Estação da Luz em si é um espetáculo de engenharia da bélle époque, que dá aos memorabilistas o pontapé no clima de romantismo e serenidade que buscam.

Também de 2009, temos o Pantanal Express, no Mato Grosso do Sul. Já alertando que lá é quente como a maioria de vocês nem imagina o quanto, a ferrovia liga os 220km entre Campo Grande e Miranda, tendo como pano de fundo a complexidade frágil do pantanal. Passando por Aquidauana, a viagem dura oito longas horas, incluindo as paradas. Para quem gosta de safári photográphico, é o que temos de melhor no Brasil.

O Espírito Santo tem o Trem das Montanhas Capixabas, que leva o turista de 15m para 530m de altitude, atravessando a mata atlântica, com direito a túneis e cachoeiras. O trajeto parte de Viana, passa pela romântica Domingos Martins e vai até Marechal Floreano, a cidade das orquídeas, terminando no distrito de Araguaya.

E Minas Gerais ficaria de fora, sô?? De jeito nenhum! A Ferrovia Centro Atlântica vai de Ouro Preto até Mariana. O percursos parece ter mil quilômetros, tamanha diversidade de paisagens e número de acidentes geográphicos. São túneis, vales, despenhadeiros assustadores. Os vagões são panorâmicos, com as laterais de vidro até a curva do teto, garantindo total visibilidade e o completo desespero dos photógraphos, que vêem a paisagem nítida de ambos os lados, mas só podendo se concentrar um um de cada vez. E olha que tudo isso está concentrado em meros 18km, com duração de uma hora, aproximadamente.



O assunto é fértil, longo e ainda voltarei a abordá-lo. Por hora, fiquem com alguns links que consegui, por hoje:

Website do Uol Viagens, clique aqui.
Website da Serra Verde Express, clicar aqui.
Website da Prefeitura de Campinas, clicar aqui.
Website turístico de Paranapiacaba, clicar aqui.
Website da Tourist Trains Eorldwide, clique aqui.
Website do Guia do Litoral/Vila Velha, clicar aqui.
Website da North American Tourist Railways, clicar aqui.
Website do Expresso Turístico Paranapiacaba, clicar aqui.
Website da Estrada de Ferro de Campos do Jordão, clicar aqui.
Wensites aos montes de passeios de trens pelo Brasil, clique aqui.
Website da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, clique aqui.
Websites das prefeituras de Bento Gonçalves, Nova Petrópolis, Gramado e de Vale dos Vinhedos, clicar nos nomes.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Vida retrô - os diners


O que é um diner, basicamente? Um trailer grande adaptado para ser um restaurante barato. Mas o termo também é estendido às lanchonetes pré-fabricadas. Só isso? Tecnicamente, sim, mas não sou tecnicista e contarei a parte bonita da história.

O primeiro diner de que se tem registro surgiu em 1872, criado por Walter Scott, que era uma carroça que servia pequenas refeições. A praticidade e honestidade do serviço garantia os preços baixos, acessíveis aos trabalhadores da época. Como tudo o que é bom, nasceu da necessidade de alguém ganhar a vida e de outro alguém receber um serviço urgente, no caso, alimentar-se sem gastar muito. Daí a associação quase instantânea do diner com um prédio assemelhado a um veículo.

Fora do Brasil, carros e acessórios usados costumam ser baratos, desde sempre, tanto que lá fora é possível comprar um Cadillac De Ville ano 2000 em estado de zero quilômetro, e requintes que nenhum nacional sonha em ter, por menos de quinze mil reais, embora aqui o mesmo modelo e versão custe setenta paus, mesmo assim vantajoso em relação aos classe-média metidos à besta que nos vendem. Em suma, rodar nos Estados Unidos ainda hoje é relativamente barato. Não há a nossa burocracia estúpida, feita por ignorantes no assunto, para impedir que uma pessoa física construa seu ônibus, seu reboque, enfim, não se atrapalha quem quer trabalhar honestamente. As flexões da palavra "honestidade" serão lidas mais vezes aqui, eu gosto delas e seu efeito no subconsciente é muito benéfico.

http://dmjuice.desmoinesregister.com/
Com isso, não é de se admirar que existam tantos campos para traileres e motorhomes, que acabam ficando com os pneus quadrados com o tempo, mas ainda podem empreitar boas viagens. São moradias baratas para quem não pode comprar uma casa, ou prefere o estilo de vida mais livre. Uma carcaça de ônibus ou bonde, então, por perfeita que esteja, é vendida a preço de matéria-prima usada. Alie-se isto à facilidade em abrir uma empresa et voilá, mais um empreendedor tentando sustentar a família com um negócio próprio. Sim, eles gostam de luxo, mas no cotidiano a ostentação não é bem vista entre os americanos, lição que nós deveríamos aprender com eles.

Com tudo isso fica fácil perceber que os diners tiveram um campo fértil, especialmente nos anos de recessão. A estrutura robusta e leve de um automóvel dispensa maiores adaptações, em termos de segurança, e resiste muito bem ao tempo com pouca manutenção, ideal para quem tem muita vontade de trabalhar e pouco dinheiro para investir. A regra era, e ainda é, oferecer um ambiente limpo e honesto. Honestidade, por falar nisso, é algo que faz muita falta às lanchonetes de fast food de hoje! Precisar apelar constantemente à venda casada de brinquedinhos para atrair público, faz favor!

Com essas características, os diners atraíram rapidamente a juventude, que começava a desfrutar de uma abundância de recursos e oportunidades que seus pais não tiveram, no pós-guerra. Claro que a nova clientela incentivou a redecoração dos treileres usados, que passou de mínima para alegre e informal. As juke box passaram a fazer parte do ambiente e toda a encrenca tomou a forma clássica que conhecemos, eternizada por filmes e documentários americanos. Como os pais já se encarregavam de dar a formação culta aos pimpolhos, eles se sentiam livres para aproveitar a vida informal enquanto podiam, afinal já tinham feito por merecer a folga à noite.

 E claro que com a presença da garotada, e os donos querendo manter a clientela, logo uma relação de amor e ódio se estabeleceu, e os rapazes envelheceram lembrando daquela garçonete linda, que ouviam dizer que dava para todo mundo, mas nenhum de seus amigos consegui pegar. Com certeza foi só boato de um fanfarrão com dor de cotovelo. O facto é que toda moça que sabe colocar um marmanjo em seu devido lugar, sem ser grossa, acaba se tornando um mito na comunidade e objecto de desejo dos rapazes.

Alguns desses rapazes, que também conheceram os anos de ouro das pin-ups, hoje vivem das mesmas ilustrações que compravam outrora, como Greg Hildebrandt, o autor da pintura ao lado, que certamente se inspirou em romances, correspondidos ou não, de sua juventude. Aliás, já tratei das pin-ups no Talicoisa, mas voltarei a falar delas com mais profundidade neste blog apropriado. Basta eu reunir material, mas podem ir se adiantando e ler aqui.

Os mais sofisticados, ainda que construídos em alvenaria, costumam imitar as linhas automotivas que fizeram a fama dos restaurantes. Como tudo o que é bom e duradouro, os diners nasceram de uma necessidade, como a de gente que precisava de uma boa refeição a preços camaradas, para o quê dispensavam a sofisticação e o conforto que os restaurantes incluem na conta. Não fossem nossas ruas esburacadas e nosso trânsito caótico, seria uma boa idéia um diner automóvel, que oferecesse um passeio enquanto os clientes são atendidos e, quem sabe, até comem para descer perto de seu destino.


Como fazer um Diner? Basicamente o mesmo procedimento para abrir um, como chamamos em Goiás, pit-dog. Bastaria um trailer e algumas cadeiras com mesas, só que um pouco mais sofisticado. Agora, num diner que mereça o nome da tradição, é preciso um bom trabalho de arquitetura, como os pioneiros fizeram intuitivamente. Como na ilustração acima, do I-70 Diner, este aqui, uma composição clássica e infalível, com cadeiras ou banquetas giratórias individuais ao balcão, e bancos contrapostos, para dois ou três, com mesas internas. A cozinha é mínima, por isso mesmo precisa ser a mais racional possível, bem como a despensa, algo que a tecnologia de hoje permite facilmente. Um ônibus urbano grande com baixa no detran, pode ser arrematado por menos de trinta mil reais, um quinto do que custaria uma estrutura de alvenaria com dimensões e robustez similares. Um funcionando e em condições de ser um diner itinerante, passa fácil de trezentos mil.

O que precisa para se trabalhar com um diner? O mesmo que um empresário normal, só que aqui vale a visão aguçada de quem fez sucesso, como o 210 Diner de São Paulo. Hoje em dia até se atrai muito a juventude, mas a combinação feliz de sofisticação e informalidade agrada muito aos adeptos do retrô e vintage, especialmente aos que têm mais de quarenta anos... É, como eu, engraçadinho. É preciso saber servir o cliente, estar disposto a ter sua amizade e conciliá-la com os negócios. Feito isso, metade do sucesso está conquistado. Também é preciso treinar muito bem os funcionários, que precisam ter muito bom humor e disposição para conversas rápidas, enquanto servem ou recolhem pratos. É preciso, como nos anos clássicos dos diners, ser um amigo do cliente, ainda que ele não esteja disposto a amizades no começo; com o tempo ele cede, é batata. Se a decoração for retrô, não poupe tempo à internet para uma boa pesquisa, ou cairá na tentação de fazer um burlesco bizarro.

A decoração pode ser complementada com cartazes e cardápios ilustrados à moda antiga, sem precisar vender Mirinda, afinal é uma adaptação de época, não uma fenda temporal. Não se furte o direito, e dever retrô, de promover bailes e festas temáticas, com prêmios para os mais bem caracterizados. Lembrem-se de que chique e informal não são antônimos, Audrey Hepburn provou isso.



Diner na Wikpédia, clique aqui.
Website do 210 Diner, clique aqui.
Website da OH-Diners, clique aqui.
Website do Baltimore Diners, clique aqui.
Website com as pinups de Hildebranddt, clique aqui.