quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vida retrô - Adoçando a boca


Para muita gente, ser vintage não basta. Usar roupas típicas dos anos sessenta, como eu, é fácil, desde que se tenha um bom alfaiate, e eu tenho. Utilizar graphias um pouco mais refinadas no cotidiano, não custa um centavo sequer, tão somente demanda vontade firme e treino, quando se vê, já se está pronunciando o "ph" diferente do "f". Ouvir Beatles, Elvis, Charles Aznavour, Carpenters, é simples questão de bom gosto e saber onde encontrar, tarefa facílima.

Para muitos, viver o estilo não é suficiente, é preciso viver no ambiente vintage. Eu, se tivesse bala, também viveria. Isso vai desde decorar a casa com cores e cerâmicas tíócas dos anos quarenta e cinqüenta, por exemplo, até contruir um drive-in na sala e posto de gasolina de época, para usar como garagem. Varia com o poder aquisitivo, claro.

Para não assustar os leitores, esclareço que nem tudo é tão caro. É relativamente simples e financeiramente exeqüível, transformar uma geladeira ruim em uma réplica de bomba antiga de gasolina, basta conhecer um funileiro de mão cheia e ter um modelo em mãos. Um resultado satisfatório pode ser conseguido pelo preço de uma geladeira nova, e a função de preservar os alimentos fica preservada. Ou simplesmente servir de armério de ferramentas, na garagem.

Com apliques de madeira laminada e tecidos decorativos, uma sofisticada, mas sem-graça, televisão de led ou plasma fica parecida com charmosas tevês de gabinete de madeira e telinhas de auto-falante. Havendo a prudência de se colocar uma bateria para se prevenir das oscilações e quedas de energia, faz-se um gabinete para unir o aparelho e sua fonte de autonomia, mais o transformador, unindo as boas características de duas épocas.

Uma garagem com espaço suficiente, pode abrigar um mini diner, com imitação juke box, fácil de ser feita por qulquer artesão, além de menu e cartazes de época, fáceis de se encontrar na internet, para imprimir sem custo. Um bom quintal, embora cada vez mais raro, pode servir de cinema drive-in, nos fins de semana, à noite. As roupas das garçonetes também são facilmente encontradas, bem como os patins de dois eixos.

Uma juke box em eprfeito estado não sai por menos de US$ 5.000,00, além de as de época não serem para todos, pois não se fabricam mais. Mas modelos modernos, com todas as funções das antigas, mais entrada para dispositivos digitais, são feitas sob encomenda no Brasil. A Juke Box Brasil cobra de R$ 3.400,00 até R$ 13.000,00 por um de seus modelos, dando dois anos de garantia. O website é enxuto e extremamente charmoso, com os cinco modelos em exposição e pin-ups em fundo de danceteria de época.

Mas há gente com verba, espaço e apoio da família, que faz de sua casa um pedaço de tudo o que uma época tinha de bom. É o caso de gente como Mark Reiff, que foi entrevistado por Ge Ferreira e virou destaque da revista Classic Show n° 57. Apesar de algumas mancadas do passado recente, continua sendo a melhor do gênero no país. A frente da casa do simpático americano de Woodland, Califórnia, foi transformada em um posto avançado dos anos cinqüenta. Seu lema: My house, my museum.
A frente da casa tem todas as características de um posto de gasolina de época, com duas bombas de gasolina, geladeiras, uma lanchonete de verdade e um boneco de fast food de época no telhado.
Na garagem, seu corvette C6 divide espaço com dezenas de bombas antigas, havendo ainda um espaço pitoresco com mobília de época e bar, além de muitas miudezas. Claro que o lugar virou atração turística, a ponto de hoje poder ser alugado para eventos. Viver como se gosta e ser pago para isso? Sujeito de sorte!

Mais longe ainda foi Fred Stok, que transformou seu sítio de cerca de 4.000m², em Santa Rosa, numa cidadezinha dos anos quarenta e cinqüenta. Ele é mecânico e fabrica hot-rods, profissão que o fez unir o útil ao agradável. Prosperou preparando motores para carros de arrancada, inclusive dos anos iniciais dos dragsters. Décadas de trabalho árduo depois, ele tem postos de gasolina com bombas dos anos quarenta, loja de conveniência cheias de latas de óleo de várias marcas e épocas, caminhão-tanque de época, inclusive dois Ford de bombeiros, um 1947 e um 1946 que pintou de rosa, para sua falecida esposa. O lugar costuma sediar eventos, principalmente de antigomobilistas, e enche. Decerto que este é um caso extremo, em que o cidadão reconstruiu uma época  e se cercou dela, o que custa muito caro.

E já que toquei no assunto, existem alguns poucos cinemas drive-in pelo Brasil. Um deles fica em Brasília, em área central, com capacidade para cerca de quinhentos carros, e adaptações de acessibilidade que não eram cogitadas na época de ouro desses cinemas. A tela é de concreto, bem maior do que a maioria das casas residenciais, com 312m² de área útil e projector de xenon; nada do que não se utilizaria na época, se então existisse. Localiza-se na Área Especial do Autódromo, Centro Esportivo Presidente Médice, Asa Norte. Não tem como errar, há poucos drive-in em Brasília...

Para quem gostou e deseja colocar a idéia em prática, mas não tem verba para reproduzir o Rio de Janeiro de antes da transferência da capital, sugiro começar pelo quarto, com cortinas, tapetes e roupas de cama temáticos. Não são tão difíceis de encontrar e não custam os olhos da cara. Se der, a cozinha pode ser facilmente transformada em uma lanchonete, apenas na aparência, mas é melhor do que nada. No fundo, o que muita gente busca no estilo é se cercar de uma época cujas turbulências já passaram, para se preservarem das turbulências da era do cinismo, pelo menos em suas casas. Para isso, a custos relativamente modestos, a decoração no estilo basta.

Website de Mark Reiff, clicar aqui.
Website do Cine Drive-in, clicar aqui.
Website da Juke Box Brasail, clicar aqui.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Vocês já andaram de Fordinho?

Foi neste que eu andei!

Eu já. Não vou me engendrar em especificações técnicas, que este não é o blog para isso, e o amigo Nikollas Ramos tem mais competência do que eu para tratar do assunto, no blog Carros Antigos. Vão lá.

Falarei da curta viagem que fiz pelas ruas de Goiânia, em uma reunião mais informal de antigomobilistas, que terminou em uma churrascaria simpaticíssima, onde tudo o que não era "ser humano" ficou de fora das considerações.

Pego de surpresa em uma manhã, vejo meus conhecidos estacionados na praça Joaquim Lúcio, na rua Alberto Miguel, em Campinas. Munido de minha desde então inseparável câmera amadora, lasquei a photographar todo mundo, os que estavam lá e os que chegavam, até mesmo uma Marajó 1982 que nada tinha a ver com eles e só passava pelo local, mas estava em excelentes condições e mereceu o clique.

No correr do tempo, me chamaram para a confraternização, enquanto mais carros chegavam, inclusive o Ford A Roadster 1931 que me serviu de transporte, com seu indefectível banco da sogra. Ainda em fase final de restauro, mas já apto às exposições.

Saímos lá pela hora do almoço, eu embarquei saquele Fordinho bege, sem capota e com o banco da sogra aberto e me senti perdido, já que não havia cinto de segurança, que eu sempre ato assim que entro em um carro. O espaço lá dentro é de dar inveja aos Fords modernos. A arrancada desmentiu um dos mitos alardeados pelos leigos, o que inclui a maioria esmagadora dos jornalistas especializados. Ele arrancou forte e sem hesitação.

Demos a volta pela José Hermano e pegamos a 24 de Outubro, que já estava com mão dupla em toda a sua extensão, o que causou algum temor e confusão nos desavisados, inclusive no meu condutor. Durante o caminho, photographei os demais.

O molejo do carrinho é algo impressionante, difícil de comparar com os nossos. Ele é muito macio, sacoleja sim, mas sem asperezas, sem sustos, mesmo nas crateras pelas quais passou, e em pouco diferem das que estavam previstas em seu projecto original. manteve a variação de 40km/h até 50km/h do comboio, para acompanhar o trãnsito, tarefa que me pareceu fácil para ele, que naquelas condições passa de 70km/h. Fomos ultrapassando e sendo ultrapassados por Pumas, Mavericks, Oldsmobile Cutlass, MP Lafer, um Opel Olimpia hot rod 1938, Ford A Phaeton 1929, enfim. Foi uma festa motorizada.

Descendo a Anhangüera, viramos na Avenida Contorno e subimos o aclive, que o Roadster venceu sem pestanejar, apesar de seus oitenta anos de vida, em meio aos buracos que os pneus aro 21 e sua suspensão de carroça ignoraram solenemente. E nós sacolejando lá dentro, contentes.

Confesso que quase não conheço Goiânia, já a conheci mais, mas ela sempre demonstrou não gostar muito de mim, e cada vez menos com o passar dos anos. Passamos por ruas das quais eu já não me lembrava, algumas que eu então nem conhecia, ou não reconhecia. Subindo e descendo rampas íngremes, com o flat head de quatro cilindros cochichando lá na frente, e o bigode do Ford enfeitando o radiador, na verdade as asas do pato cromado. Não precisa de mais do que isso para o trânsito urbano, pelo que sempre insisto que um mini-bugue seria muito maias seguro e eficaz no tráfego do que as motoquinhas que a garotada compra.

Passamos por trás do Joquei Clube de Goiás, onde trabalhei por anos em fins de semana e carnavais. Confesso que nunca fui inocente quanto ás conjunturas da vida, mas na época eu era mais esperançoso. mas todas essas tristezas eram diluídas com os sussurros e o balançar do Fordeco. É como o amigo Zullino disse, ele é muito bom de curva, até aderna bastante, mas dificilmente aparece alguém barbeiro suficiente para tombá-lo.

Quando meu condutor reduzia a marcha, com a dupla embrenhagem, e pisava mais forte, o Fordinho pulava para frente como se fosse um carro moderno de tração traseira, sem cantar pneus. Sob o sol inclemente, eu me deliciava no primeiro passeio em um conversível, e logo um ícone da indústria automotiva, tão popular que ainda hoje se encontram peças para ele. Subimos a Tocantins, em meio aos ônibus e pegamos a outra circular, a da Praça Cívica, que contornamos com bravura. e o Wanderley, gaiato, aproveitou a minha distração enquanto clicava os Pumas, e me clicou, ao volante do Cutlass 1961 conversível.

Pegamos a 85 e fomos para o Bueno, passando pelas alamedas bem cuidadas, ainda assim que não escapam do descaso da prefeitura, nos embrenhamos em mais uma rua que eu não conhecia e chegamos ao nosso destino, o Picanha na Tábua, que eu recomendo e rebebendo. A conversa rendeu, as photographias renderam, as trocas de informações renderam e a comida também rendeu. Comemos à uma fileira de mesas montada na calçada, ao ar livre, vendo os possantes descansando e sendo admirados.

Mas a cousa mais valiosa da epopéia conto-lhes agora: A reação das pessoas. Foi tocante ver o público acenando, apontando, tirando photographias, as crianças sorrido e pulando a verem o Fordinho passando. Senti o que é ser uma celebridade, por alguns momentos, mas sem a parte ruim de ser uma. Muita gente hoje tem a minha cara de batata guardada em seus arquivos de computador. Aquelas reações foram espontâneas, das pessoas arregalando os olhos e escancarando so sorrisos, chamando os outros para verem o desfile, especialmente o Ford A Roadster. Os sorrisos eram claramente sinceros, principalmente das crianças, que ficaram eufóricas, não cabendo em si de tamanho entusiasmo. Peguei carona em uma aprovação social massiva e unânime que jamais conhecera, de gente que não esperava absolutamente nada daqueles intrépidos antigomobilistas, a não ser a emoção que já estava aflorada.

Decerto que muita cousa some com o tempo, mas a sensação e as impressões estão tatuadas n'alma, principalmente os sorrisos daquelas crianças, que pulavam e acenavam pelo caminho. Ser vintage é bom, muito bom.

sábado, 16 de junho de 2012

Os reclames 01


Houve época em que este era o nome das propagandas: Raclame. Isso na época em que as pessoas saiam esbaforidas do trabalho para voltarem para casa, não para correr e não perder a hora do happy hour. Enfrentar fila de restaurante nunca foi meu programa.

Algo que os reclames faziam, não era dizer que sua vida melhora se tomar coca-cola, mas que genrte bem de vida toma coca-cola, por exemplo. Era um modo de garantir ao consumidor que ele não estaria aderindo a um simples modismo vulgar, ou comprando um producto sem garantia de procedência, ou ambos.
Photographia era algo relativamente caro, até meados dos anos sessenta, especialmente no terceiro mundo. 


Colorida então, só para algumas capas de revistas e olhe lá. Então apelava-se para o talento dos ilustradores. Alguns deles tornaram-se célebres, como Gil Elvgren, George Petty, Wendell Kling, Harry Fredman, Joyce Ballantyne, Gwen Fremlin, o lendário e debochado Norman Rockwell, até mesmo o brasileiríssimo Alceu Pena. A idéia era não só mostrar o producto, mas mostrar o producto bem feito em um ambiente bem resolvido. Se o carro não atingisse as expectativas plenamente, é porque não foi colocado em condições que o permitissem, entenderam? Comparar um carro de classe média com um Rolls Royce, porém, é malandragem recente.

O truque era simples, fazer o consumidor acreditar que estava levando para casa, um artigo normalmente destinado às famílias mais abastadas. E realmente era o que vendiam. Na época, o aumento de produção demandava necessáriamente o aumento da mão-de-obra, inclusive a especializada. Ganhava-se somente pela maior escala de produção, podendo cobrar menos no varejo e ganhar mais nas vendas globais. Hora extra era cousa seríssima. O cuidado era fazer com que o cidadão levasse para casa, um sonho que não se tornasse pesadelo em pouco tempo, o que deporia contra a corporação e a favor da concorrente.


Foi, aliás, a tão criticada Coca-Cola que primeiro tentou colocar negros como protagonistas em seus reclames, ainda na bélle époque, intenção que precisou esperar até os anos setenta para ser concretizada. Não vem ao caso dizer que houve interesses obscuros, o facto é que eles tentaram e os outros sequer tiraram a buzanfa do sofá. Ford até empregava negros e mulheres, pagando o mesmo salário dado aos homens brancos, mas propagandear como argumento de venda era outra história.

A regra geral para uma arte de comercial era retratar um mundo melhor do que o existente. Nunca foi difícil imaginar, passar para a tela é que são elas. Ainda há o facto de que muitos ilustradores se recusavam a trabalhar para quem não mantivesse o padrão de qualidade de suas pinturas. Hoje, sem querer parecer um saudosista patológico, é "Pagou, pode limpar o derrière com o original". Cores vibrantes, mesmo as pastéis mais suaves, transmitiam a imagem de um mundo em que tudo o que quebrasse seria imediatamente reparado, ou substituído em caso de dano sério. Com isso, o consumidor imaginava facilmente um lugar onde tudo estivesse em condições adequadas de usufruto, desde a indra estrutura até os carros e eletrodomésticos.


Embora Nada tenha a perfeição, as empresas realmente se orgulhavam de oferecer ao cliente um producto resistente e durável, alegando que ele poderia ser revendido para pessoas de baixo poder aquisitivo ainda em exelentes condições de uso. Tenho notícias de uma geladeira GE do fim dos anos quarenta, da falecida mãe de uma amiga, que ainda hoje funciona a toro vapor. Claro que com sessenta anos de uso em nossa péssima distribuição de energia, ela começou a pedir uma intervenção técnica, mas ainda funciona. Foi comprada de segunda mão. O que o consumidor entendia disso: Você compra porque quer, não porque quebra.

Com todo esse orgulho em oferecer o modelo mais resistente e durável do mercado, o ilustrador ficava livre para seduzir o cliente, sem se preocupar em camuflar defeitos crassos de engenharia e qualidade. Também por isso os reclames são tão artísticos em sua produção. Uma das mensagens, especialmente a um país ainda hoje bastante caipira, é que o cidadão tem o direito de ser sofisticado, e não precisa abrir mão de suas origens para isso. Relembrar que os Estados Unidos foram feitos pelos imigrantes que chegaram em busca de uma vida melhor, era uma tática recorrente e eficaz, para dizer que (quase) todos chegaram por baixo e muitos deles estão muito bem de vida. À parte o descontrole com o consumo e suas conseqüentes recessões, funcionava muito bem, obrigado.


Às vezes o optimismo era exagerado, como mostrar uma dona de casa com um penteado impecável, vestido de corte perfeito, maquiagem glamourosa e um lindo sorriso nos lábios, enquanto lavava a louça. Claro que muitas paródias saíram disso, e críticas também. Assim como muita gente criticava as ilustrações que mostravam marido e filhos ajudando nas lidas domésticas, uns afirmando que era utopia, outros que era obrigação só da mulher. A criatividade corria solta, até porque foi uma época de inovações reais, que inspiravam uma vida realmente nova, e não simplesmente de vender maneiras diferentes de se fazer a mesma coisa, como com os malditos tablets.

Para finalizar, uma curiosidade. O Papai Noel de roupas vermelhas que se tornou padrão, não foi invenção da Coca-Cola. Esta configuração consta de reclames desde o fim do século XIX. O que o refrigerante conseguiu foi torná-lo padrão, a partir de 1930, com suas campanhas natalinas que sempre arrasaram quarteirões. O bom velhinho bonachão e carismático foi criado pelo ilustrador Haddon Sundblom, inspirado em si mesmo.


Algo que esses mestres da ilustração tinham em comum, além da união, era serem todos pintores de pin-up. Inclusive as ilustradoras, estas, aliás, com freqüência solicitadas como artistas e modelos ao mesmo tempo, pintando a si mesmas com a ajuda de espelhos. Dificilmente eles aceitavam copiar de uma photographia, preferindo retratar o frescor de quem iria para os anúncios. Dava perfeitamente para mudar cor de cabelo, penteado, cor de olhos, altura, dependendo do que fosse solicitado. Mas a quem se via no reclame, se encontrava pelas ruas. Um mínimo de honestidade existia.



Blogs e websites de ilustrações e reclames:
Old Book Art, clique aqui.
Ad classix.com, clique aqui.
Today's Inspiration, clique aqui.
Art Renewal Center, clique aqui.
Adversiting Antiques, clique aqui.
PLan 59 Pastelogram, clique aqui.
American Art Archives, clique aqui.
The Advertsing Archives, clique aqui.
The Old Car Manual Project, clique aqui.
Ohio Universit Vintage Print Adversiting Archive, clique aqui.

Blogs e websites de pin ups:
The Pinup Files, clique aqui
Freespace Virgin, clique aqui.
JVJ-PBIB Publishing, clique aqui.
Blog da Pin Up Gordinha, clique aqui.
Das Virtuelle Pin-up Art Bilder Museum, clique aqui.

sábado, 9 de junho de 2012

A mobília - Pé palito


Muito pode ser encontrado sobre mobiliário vintage e retrô, na internet. Infelizmente a maioria se limita a superficialidades, ou dizer que é de família, ou que pertenceu a essa ou aquela celebridade, como argumento de venda.

No decorrer do tempo, falarei também da memorabilia, que é a actividade em torno de objectos antigos, especialmente os domésticos. Começo com um estilo que tenho muito claro em minha mente lesada, o estilo pé-palito.


Recebeu este nome por causa justo de suas pernas, que ficam mais finas em dirreção ao chão. Tecnicamente é correcto, já que o ponto de fixação sempre necessita de mais resistência do que a ponta livre, que é o pé do móvel. Como assim? É assim: a parte fixa, é a que apóia o móvel, e por não poder deslizar, o que absorveria a energia de um choque, está mais sujeita a avarias, por isso precisa ser relativamente espessa.  O pé desliza no chão, se alguém empurrar. Se não deslizar, apoiado pela fixação robusta, flexiona até onde o material permitir, dissipando a energia e preservando o conjunto.

A inspiração do estilo pé-palito vem do optimismo do pós-guerra, com o advento do jacto e o sonho das viagens espaciais. Como o lema na indústria aeroespacial é eliminar o supérfulo, para poupar combustível e acrescer capacidade de carga, todo o que se inspirou nela segiu o mesmo caminho. Os cantos abaulados de algumas linhas, as cores suaves da fórmica e os pés ficando mais finos em direção ao chão, davam ao comprador a impressão de estar levando o futuro para casa. Era exactametne esta a intenção, pois o consumidor esperançoso é sempre mais generoso.


O estilo, porém, tem seu calcanhar de aquiles. Necessita ser feito de materiais de boa qualidade e ser bem montado. Infelizmente, especialmente no Brasil, muitas fábricas encheram o mercado com móveis de compensado comum, daqueles que só servem de tapume ou para isolamento térmico, parafusando neles os pés-palito, com pouca ou nenhuma guarnição. Resultado: os móveis envelheciam rapidamente e decepcionavam o comprador, que voltava às velhas mesas de pés retos, mesmo com a casa já totalmente montada nos pés-palito. Como não havia internet na época, e mesmo o telephone era para poucos, a má fama corria de boca em boca, por meio de leigos, sem que técnicos tivessem a chance de desfazer equívocos. Assim o pé-palito ficou conhecido como móvel de rico, que podia ter todo o cuidado do mundo, algo que os pobres não podiam dispensar a um móvel. Claro que a ignorância também cooperou, porque vocês sabem o quanto o compensado comum é sensível à umidade, e mesmo assim muita gente lavava suas mesas pé-palito com água e sabão, quando a fórmica prima justo por dispensar limpeza pesada.

Mas as vantagens de um pé-palito bem construído são inegáveis. São móveis que facilitam muito a limpeza da casa, deixando poucos espaços fechados junto ao rodapé, dificultando o acúmulo de poeira e a proliferação de insetos. E durante a limpeza, permitem que vários móveis sejam colocados debaixo de uma mesa, por exemplo, facilitando a vida de quem coloca a mão no rodo para fazer a casa brilhar. Também por causa das pernas, são fáceis de segurar e carregar, facilitando uma redecoração ou eventual mudança de endereço.


A maior vantagem, porém, é o que esses móveis fazem com o ambiente, que ganha a raríssima combinação de leveza e bom preenchimento. Por terem pernas relativamente longas, a parte de baixo fica facilmente visível, combinando com a silhueta baixa e elegante, fazendo a casa ficar ao mesmo tempo bem mobiliada e com amplo espaço para movimentação, especialmente quando se chega da rua com sacolas, malas ou mochilas, situação em que se precisa de espaço acima da linha de cintura. Outra vantagem, é combinar com praticamente qualquer outro estilo de mobília, permitindo ter uma mesa de jantar pé-palito sem medo de destoar dos sofás. A casa fica com um aspecto próximo ao minimalista, sem aquela sensação de desamparo. Aliás, pé-palito combina bem com sofá-feijão, que geralmente também tem pé-palito.

Não é difícil encontrar pra comprar, ou gente para fazer móveis de pé-palito, o problema é encontrar objectos íntegros, ou quem faça um serviço que preste. De cara advirto que sai caro, salvo os poucos bons leilões desse tipo que temos por aqui. A principal dificuldade é que quase não se faz mais essa escola, e quem faz tem escalas pequenas de produção, resultando em preços mais altos. Via de regra, móvel antigo em bom estado é caro, móvel retrô de boa qualidade é caro, mas menos. A quem quiser tem os pés-palito em casa, aconselho buscar em antiquários, porque noutras fontes a necessidade de restauro é quase certa, inclusive no Mercado Livre. E restauro, como sabem, é para quem tem tempo e dinheiro para investir, e quase ninguém tem uma oficina em casa, para se dedicar à restauração de um móvel.
 Não se privem de terem o que querem com medo de serem taxados de anacrônicos, se é que o típico detrator de um vintage sabe o que significa isso. Há gente jovem, jovial e de bom gosto que ama esse estilo, inclusive o pé palito. Como a menina do A Casa que minha avó queria (aqui) que já fez birra pelo alto custo de um móvel genuinamente vintage, com alma, enumerando alguns dos motivos de seus preços salgados, neste artigo aqui. Também a menina do blog Casa de Filó (aqui) que trata aqui do nosso assunto. Viram? Quem entende de decoração, aprecia o pé-palito e a decoração retrô.

Alguns lugares interessantes que encontrei, em minha pesquisa, mas repito que os preços estão longe de serem populares:

Antiquário família Real, em Goiânia, no Jartim Atlântico. Não encontrei uma págima própria, mas tem referências aqui. Photographias aqui.
Estídio Glória, na Vila Madalena, em São Paulo. Uma loja especializada em garimpar e restaurar móveis antigos, mas também restaura o do cliente. Clicar aqui.
Pé Palito, em Belo Horizonte. como o nome diz, é especializada em móveis retrô, especialmente o tido de que tratamos neste artigo. Clicar aqui.
Vintage & Cool, loja virtual que tem de tudo um pouco do mundo vintage. Como os preços são condizentes, me inspirou confiança. Website aqui, e blog da loja aqui

Se tiverem sugestões de boas lojas do ramo, é só informar que eu publico.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A magia dos quadrinhos antigos


Não se trata só de nostalgia, os quadrinhos antigos tratam de uma época em que a neurose ainda era tratada como doença, não como uma pandemia. Mas não pensem que são estorinhas inocentes, não senhor! Aquelas páginas eram cheias de duplo sentido, não para fazer os mais pudorosos corarem, mas para que os pais pudessem rir com seus filhos, sem precisar explicar a parte picante que só adultos enxergam. Esqueçam a malícia pobre dos adolescentes de hoje, eles só sabem da vida a superfície, nenhum deles dá aula do que preste... e levam banho dos malandros de verdade.

Aqueles quadrinhos eram feitos por adultos, quase sempre pais de família, que começaram a vida amargando dificuldades para começar a viver dos desenhos, então eles sabiam o que estavam fazendo e até onde podiam ir. A propaganda patriótica, às vezes descambando para a patriotada, era visível, mas sem a agressividade das propagandas oficiais, especialmente durante a segunda guerra. O casal, criado por Larry Whittington em 1922, passou a dividir a vida em quadrinhos com a menina Nancy e sua turma, criação da cabeça lesada de Ernie Brushmiller, que nos atazanou de 23 de Agosto de 1905, até 15 de Agosto de 1982. Era para serem participações especiais, mas rapidamente as duas se entrosaram e tornaram-se inseparáveis. O desfile de moda, que foi a duração dos quadrinhos de Ernie, é um pequeno curso de cultura cotidiana. As aventuras deles estão nos sêbos, nas páginas da revista Tip Topper.


O interessante para nós aqui, nestes quadrinhos, é não só rir, mas também observar padrões estéticos e comportamentais de época. Se formos filtrar e fazer as devidas adaptações, os costumes não mudaram tanto assim. Em muitas situações, para o entendimento dos adultos, a homossexualidade e a emancipação feminina são colocadas com sutileza, mas de forma clara e inequívoca. Muitas meninas dos anos quarenta e cinqüenta, se inspiraram na morenaça Fritzi, que dos anos vinte ao início dos cinqüenta nunca se casou com o namorado. Mas nada de promiscuidade, foi só um, firme, e que em nada atendia aos padrões do galã de cinema!

Também citemos a famosa Luluzinha, nada a ver com o mangá tosco que temos por aqui. A menina nasceu pelos traços de Marjorier Henderson Buell, a Marge, que esteve entre nós de 11 de Dezembro de 1904 até 30 de maio de 1993. Foi um dos primeiros quadrinhos a mostrar que as crianças até são ingênuas, por falta de experiência, mas nada têm de inocentes, não mesmo! Luluzinha apareceu por volta de 1935 e está na activa até hoje, quase sempre em reprises. Com linhas simples, um colírio para um mundo que vive lendo telas luminosas de computadores e outras tralhas cibernéticas, Luluzinha mostra de forma resumida a moda e a memorabilia dos anos quarenta e início de cinqüenta, principalmente.


Nascida em 8 de Setembro de 1930, com o mundo ainda amargando a falta de rédeas de que os bancos tinham, e voltaram a usufruir, Blondie foi criada por Chic Young, que a passou para seu filho Dean Young, que fundou uma sociedade secreta para preservar a identidade da criação de seu pai, e assim repassar sem medo para seus sucessores: Jim Raymond, Mike Gersher, Denis Lebrun e Jhon Marshall, o que porta a maldição dos Young. Claro que vocês não leram isto e não sabem que a sociedade secreta existe, ou eu teria que matar cada um de vocês. Ao contrário das anteriores, Blond tem o imenso mérito de ter se actualizado com o passar dos anos, pelo simples facto de que tem tiras diárias até hoje, proporcionando ao pesquisador atento, uma clara noção das mudanças pelas quais o mundo passou nestes quase oitenta e e dois anos de união, setenta e nove de casamento. Blondie é dona de casa por vocação, casada com o desastrado Dagwood, mas nos quadrinhos recentes virou sócia em uma doceria com sua amiga Cora.


Por último, mas não menos importante, também recomendo Archie. Talvez o mais bem sicedido dos quatro. Nascido em Novembro de 1939, quando a Eurpa estava quebrando o pau e os Estados Unidos prestes a entrar na guerra, começou com tiras desenhadas por Maurice Coyne, Louis Silberkleit e John L Goldwater, que fundaram a MLJ magazines para a empreitada. A turma de Archie é mais focada na juventude e, como Blondie, vem acompanhando toda as mudanças decorridas nestes setenta e dois anos. É, aliás, a revista que começa a abordar com mais ênfase a diferenciação de costumes e modas entre jovens e adultos. É um acervo rico para quem souber explorar.


O lado bom desses quadrinhos, é abordarem a parte cotidiana dos americanos, sem os ranços e as torpezas que os anos deveriam ter enterrado, mas infelizmente foram ressuscitadas por radicais de política necromante. O sopro de épocas em que havia esperança, e em que depressão era tratada por analistas e não pela saúde pública, pode ser facilmente aspirado por quem se permitir alguns minutos diários de leitura, admiração e estudos.

A composição de um bom figurino é facilitada pela leitura detalhada dos quadrinhos de época, simplesmente porque eles foram feitos na dita época. À parte alguns exageros e rebuscamentos de estilo, típico de quadrinhos humorísticos, eles podem dar boas idéias até de customização de peças contemporâneas, para que ganhem toques de determinada década. O hábito da leitura de revistas de época, pode levar os mais atentos a um grau de refinamento muito grande, em que o leitor passa a criar em vez de simplesmente copiar um desenho de época, resultando em roupas e objectos facilmente reconhecíveis, mas originais.

Para ver mais sobre:
Blondie, clique aqui.
Os Archies, clique aqui
Fritzi Ritz, clique aqui.

Eis aqui alguns blogs e websites  de ilustrações e quadrinhos de época, todos com disponibilidade gratuita de seu acervo, alguns com longas listas de links para outros do gênero:
Today's Inspiration.