segunda-feira, 18 de junho de 2012

Vocês já andaram de Fordinho?

Foi neste que eu andei!

Eu já. Não vou me engendrar em especificações técnicas, que este não é o blog para isso, e o amigo Nikollas Ramos tem mais competência do que eu para tratar do assunto, no blog Carros Antigos. Vão lá.

Falarei da curta viagem que fiz pelas ruas de Goiânia, em uma reunião mais informal de antigomobilistas, que terminou em uma churrascaria simpaticíssima, onde tudo o que não era "ser humano" ficou de fora das considerações.

Pego de surpresa em uma manhã, vejo meus conhecidos estacionados na praça Joaquim Lúcio, na rua Alberto Miguel, em Campinas. Munido de minha desde então inseparável câmera amadora, lasquei a photographar todo mundo, os que estavam lá e os que chegavam, até mesmo uma Marajó 1982 que nada tinha a ver com eles e só passava pelo local, mas estava em excelentes condições e mereceu o clique.

No correr do tempo, me chamaram para a confraternização, enquanto mais carros chegavam, inclusive o Ford A Roadster 1931 que me serviu de transporte, com seu indefectível banco da sogra. Ainda em fase final de restauro, mas já apto às exposições.

Saímos lá pela hora do almoço, eu embarquei saquele Fordinho bege, sem capota e com o banco da sogra aberto e me senti perdido, já que não havia cinto de segurança, que eu sempre ato assim que entro em um carro. O espaço lá dentro é de dar inveja aos Fords modernos. A arrancada desmentiu um dos mitos alardeados pelos leigos, o que inclui a maioria esmagadora dos jornalistas especializados. Ele arrancou forte e sem hesitação.

Demos a volta pela José Hermano e pegamos a 24 de Outubro, que já estava com mão dupla em toda a sua extensão, o que causou algum temor e confusão nos desavisados, inclusive no meu condutor. Durante o caminho, photographei os demais.

O molejo do carrinho é algo impressionante, difícil de comparar com os nossos. Ele é muito macio, sacoleja sim, mas sem asperezas, sem sustos, mesmo nas crateras pelas quais passou, e em pouco diferem das que estavam previstas em seu projecto original. manteve a variação de 40km/h até 50km/h do comboio, para acompanhar o trãnsito, tarefa que me pareceu fácil para ele, que naquelas condições passa de 70km/h. Fomos ultrapassando e sendo ultrapassados por Pumas, Mavericks, Oldsmobile Cutlass, MP Lafer, um Opel Olimpia hot rod 1938, Ford A Phaeton 1929, enfim. Foi uma festa motorizada.

Descendo a Anhangüera, viramos na Avenida Contorno e subimos o aclive, que o Roadster venceu sem pestanejar, apesar de seus oitenta anos de vida, em meio aos buracos que os pneus aro 21 e sua suspensão de carroça ignoraram solenemente. E nós sacolejando lá dentro, contentes.

Confesso que quase não conheço Goiânia, já a conheci mais, mas ela sempre demonstrou não gostar muito de mim, e cada vez menos com o passar dos anos. Passamos por ruas das quais eu já não me lembrava, algumas que eu então nem conhecia, ou não reconhecia. Subindo e descendo rampas íngremes, com o flat head de quatro cilindros cochichando lá na frente, e o bigode do Ford enfeitando o radiador, na verdade as asas do pato cromado. Não precisa de mais do que isso para o trânsito urbano, pelo que sempre insisto que um mini-bugue seria muito maias seguro e eficaz no tráfego do que as motoquinhas que a garotada compra.

Passamos por trás do Joquei Clube de Goiás, onde trabalhei por anos em fins de semana e carnavais. Confesso que nunca fui inocente quanto ás conjunturas da vida, mas na época eu era mais esperançoso. mas todas essas tristezas eram diluídas com os sussurros e o balançar do Fordeco. É como o amigo Zullino disse, ele é muito bom de curva, até aderna bastante, mas dificilmente aparece alguém barbeiro suficiente para tombá-lo.

Quando meu condutor reduzia a marcha, com a dupla embrenhagem, e pisava mais forte, o Fordinho pulava para frente como se fosse um carro moderno de tração traseira, sem cantar pneus. Sob o sol inclemente, eu me deliciava no primeiro passeio em um conversível, e logo um ícone da indústria automotiva, tão popular que ainda hoje se encontram peças para ele. Subimos a Tocantins, em meio aos ônibus e pegamos a outra circular, a da Praça Cívica, que contornamos com bravura. e o Wanderley, gaiato, aproveitou a minha distração enquanto clicava os Pumas, e me clicou, ao volante do Cutlass 1961 conversível.

Pegamos a 85 e fomos para o Bueno, passando pelas alamedas bem cuidadas, ainda assim que não escapam do descaso da prefeitura, nos embrenhamos em mais uma rua que eu não conhecia e chegamos ao nosso destino, o Picanha na Tábua, que eu recomendo e rebebendo. A conversa rendeu, as photographias renderam, as trocas de informações renderam e a comida também rendeu. Comemos à uma fileira de mesas montada na calçada, ao ar livre, vendo os possantes descansando e sendo admirados.

Mas a cousa mais valiosa da epopéia conto-lhes agora: A reação das pessoas. Foi tocante ver o público acenando, apontando, tirando photographias, as crianças sorrido e pulando a verem o Fordinho passando. Senti o que é ser uma celebridade, por alguns momentos, mas sem a parte ruim de ser uma. Muita gente hoje tem a minha cara de batata guardada em seus arquivos de computador. Aquelas reações foram espontâneas, das pessoas arregalando os olhos e escancarando so sorrisos, chamando os outros para verem o desfile, especialmente o Ford A Roadster. Os sorrisos eram claramente sinceros, principalmente das crianças, que ficaram eufóricas, não cabendo em si de tamanho entusiasmo. Peguei carona em uma aprovação social massiva e unânime que jamais conhecera, de gente que não esperava absolutamente nada daqueles intrépidos antigomobilistas, a não ser a emoção que já estava aflorada.

Decerto que muita cousa some com o tempo, mas a sensação e as impressões estão tatuadas n'alma, principalmente os sorrisos daquelas crianças, que pulavam e acenavam pelo caminho. Ser vintage é bom, muito bom.

5 comentários:

  1. A alguns meses eu vi um Ford 1928 com carroceria phaeton à venda em Porto Alegre, em fase de restauro, ironicamente no dia das comemorações do centenário da Chevrolet. Mas o "banco de sogra" é folclórico...

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    1. O Bando da Sogra é o mais procurado e caro. Um Phaeton em condições de viajar, tu compras com quarenta mil reais, um Roadster dificilmente sai por menos de sessenta.

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    2. Aquele que eu vi saía por $28000, mas tinha muitos detalhes a fazer, inclusive a capota.

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  2. Tem um senhor, num fordinho Phaeton azul, que volta e meia eu via andando no trânsito em Goiânia, notadamente por duas vezes vi ele subindo a Av. Tocantins, o carrinho esperto pra andar, acompanha na boa o trânsito, o motor tem pouca potência, mas bastante torque (força).

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    1. Creio que sei qual é, ele apareceu no último encontro mensal. Domingo que vem tem outro, no Mercado Aberto.

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